quinta-feira, 31 de março de 2011

Contos das Encruzilhadas - Pais e Filhos




E as noites nos acolheram na fuga dos braços das famílias, fossem elas da maneira como fossem. Na esquina os sorrisos que trocávamos eram quentes e jovens, e as regras ficavam para trás. Se não fizéssemos isso, seríamos derrotados. Numa revolta intelectual dissimulávamos a dor e a apreensão, enganávamos, mentíamos, e quase sempre conseguíamos. Era hora de correr os riscos, e o mundo nos esperava, com suas luzes noturnas, boêmios, música e liberdade. As máscaras que nos forjavam caíam naquela encruzilhada e se desfaziam nos amores insanos e passageiros. No final de tudo, sobrava o retorno perdido e confuso aos olhos indignados. Alguns de nós não tinham para onde voltar, outros pelo mesmo motivo se perderam. Outros tinham, mas não queriam. A paz e o lar não eram para nós. Os riscos eram muitos e a vida passa rápido, hoje não temos mais a sensação da fuga, e as esquinas não serão mais ocupadas. É possível que muitos dos que se foram ainda mantenham os olhos lá, numa eterna vigília satisfeita, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, nos encontraremos.

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