quarta-feira, 2 de março de 2011

Acho que perdemos a chave do apartamento 23. Por @ThiagoDominoni






Apartamento 23
Bateu com medo e receio na porta.
_Não há ninguém, pensou.
O trinco da porta bordou uma leve impressão digital recente.
_Deve haver alguém. Esta no banho por isso não veio.
Na cama. Pós - banho.
_ Ele viajou. Ah! Estava tudo muito esquisito e até, feio. Feio como aqueles desenhos de primário. Há linha, há um quase caminho, há quase alguma coisa, quase alguma imagem do que se passa na cabeça de quem brinca com o papel. Quase.



(Bebi um copo de leite e fiquei com os lábios manchados)
_ Nós viajamos para o esconderijo mais seguro.
Moramos perto, coisa de 15 minutos. Viajamos na véspera de nosso aniversário.
Não há nada seguro na cidade que estávamos nos encontrando, era um emaranhado de insegurança, de uma série de impulsos que poderiam ser divididos em episódios de um seriado americano.
Nós viajamos para o esnconderijo mais seguro.
E sei, não há dias de visita. Não seria um problema de dinheiro e sim de hospedagem. Não há possibilidade de divirdimos a vida e então, dividimos um pedaço de cada um quando marcamos inesperadamente um encontro num desses sonhos esquisitos.
Nós viajamos para o esconderijo mais seguro.
E não houve uma escolha e nem mãozinha de destino, por que não acredito nessas coisas pré-definidas.Vamos acontecendo-nos e enquanto a vida progenitora de mim reflete no espelho vezeoutra uma lembrança sua eu, eu adubo a embriaguez no corpo perdendo qualquer possibilidade de carinho por mim.
Preferiria não. Preferiria ter te perdido no meio de uma grande multidão e depois, depois, projetaria nas telas de cinema a multidão vista no ângulo, no ângulo de quem vê lá do céu, aí te encontraria e mandaria chuva de São Pedro, de São tudo. Seria melhor, mais bonito.
Mas nos perdemos pra vida.
Se eu pudesse, ia pedir para vir sem medo, sem um triz de insegurança, sem nada - além - do seu porto mais seguro, eu.
(Fechei o caderninho de anotações que ganhei no aniversário anterior ao último.)
Apartamento 23
O trinco do apartamento ,velho, esta coberto de pó.
Alguém se mudou e nunca mais voltou.
Prefiro acreditar nisso.
Moro no andar acima e ninguém precisa saber, enquanto nós, precisamos esquecer por uma questão de prática.
Você fica no elevador e eu uso a escada. Sei que é mais preguiçoso que eu.
Então, enquanto viaja e não volta, ou já que encontrou outro apartamento, eu esqueço.
Eu esqueço, lembrando que moramos pertinho, coisa de 15 minutos.
Nós viajamos para o esconderijo mais seguro.
E estamos irremediávelmente "partindo", irremediávelmente mentindo que estamos longe.
Um SMS duvidoso.
Roupa preferida que a gente guarda e não usa. Nunca mais.

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