Maldito soro. Não é uma festa da qual nos orgulhamos como roqueiros. Mas fomos, vimos, dançamos, ouvimos, até nos misturamos. No final de tudo, o inchaço do álcool nos deixou irreconhecíveis. As memórias falhas nos tornaram imperdoáveis, e o meio fio serviu mais uma vez de apoio para nossa embriaguês alucinada, na eterna busca hedonista pela fórmula das noites perfeitas.
Nem o violão estava aqui desta vez, para me descontaminar dos confetes e serpentinas. Tudo aquilo era muito barulhento, mesmo assim alguns de nós estava com o sorriso estampado, mesmo com aquele cheiro de suor, vômito e perfume misturado da orgia da qual acabavam de sair. No outro lado da rua, uma bela moça nos olhava, com ar de indignação e desejo ao mesmo tempo, ao tempo em que o sol nascia, ela ouvia interessada nossas histórias recentes. Pobre moça, estava indo trabalhar, já cedo, na Quarta-Feira de Cinzas. Olhei para ela com piedade, parece que ela simpatizou comigo. Houve um instante de silêncio, ela bem vestida, nós sujos e bêbados, ela atravessou a rua lentamente na nossa direção, ouvimos o saldo de seus sapatos no asfalto com perfeição. Abriu a bolsa, e sem tirar os olhos de mim atirou três vezes, apenas ouvi alguns gritos e correria. Enquanto eu sentia o gosto do meu sangue, lembrei da filosofia do rock, como dizia Marceleza, não há mais festa, nem Carnaval. Maldito soro.
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