sexta-feira, 10 de junho de 2011

Contos das Encruzilhadas - Ninguém estava pronto



Mesmo que soubéssemos quais os destinos que nos aguardavam, bons ou maus, não seríamos capazes de escolher a despedida. No final de cada rua havia um acorde ecoando pelas cabeças, que amadureciam e pensavam em todas as possibilidades de fugir do que seria levar uma vida normal, fugir dos riscos de sermos cidadãos comuns. Precisávamos vender e vencer, precisávamos perceber que todos os que nos assistiam e nos aplaudiam, que nos incentivavam estavam nos passando para trás em troca do conforto e da preguiça. Ficamos para trás por que ninguém estava pronto a negar a arte de viver da arte. Ninguém estava pronto a deixar as mulheres e seus olhares sedentos de curiosidade  e excitação a cada canção nossa. Ninguém queria que os entorpecentes acabassem e não houvesse mais dinheiro pra comprar, a ponto de acabar o sorriso falso e a alegria despencada de uma noite rebelde. Nunca estivemos prontos, e todos os que  ali viveram sentirão a cada dia o perfume da velha encruzilhada, com sua luxúria constante e sua paz vadia, gloriosa pelas histórias e assombrada pelos fantasmas que criamos ali, e até hoje não libertamos, por que talvez eles sejam a personificação do nosso medo. Nossas noites serão assombradas pelos rostos de alegria que jamais veremos  novamente.  É hora de voltar. Os fantasmas nos esperam. 

Um comentário:

  1. ADOREI!!!!! Parabéns, sempre digo que não consigo colocar palavras em meus pensamentos e sentimentos e que fico muito satisfeita e feliz quando consegue expressar com tanta riquezas de detalhes em um texto, você é muito bom no que faz.... fui....
    cabeça de pano

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