quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Contos das Encruzilhadas - Dons enterrados




Muitas noites se passaram, e muitos por aqui passaram. Alguns de nós ficamos, esquecidos, empoeirados e constrangidos. As mãos estavam meio enferrujadas para acompanhar os pensamentos. Os pensamentos
mudaram e os acordes continuaram os mesmos. Algo estava errado. O sorriso e o perfume das mulheres, a tontura do álcool, o prazer enfumaçado e canceroso do cigarro, tudo parecia errado. As canções estavam presas nas gargantas,  mas os olhares constrangidos eram a censura que decretava um fim melancólico e silencioso para elas. O cigarro é amassado sob o sapato. O único ruído enquanto todos aqueles olhos se enfrentam é o gelo no copo. Um último gole, e uma saudação tímida e furtiva.  O amor enterrava mais um dom naquela esquina. Mas nós, que ficamos, sabíamos que ele viraria ódio. Quando o amor enterra um dom, ele mesmo acaba sepultado. Que descanse em paz.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem vindo e obrigado por participar!