O violão às vezes me cansa. Parece que todos passam pela mesma esquina, e durante anos me verão ali, acompanhado deste instrumento como se fosse um membro do meu corpo. E mesmo quando penso em
parar por que sei que meus dedos estarão doendo e minha cabeça de repente vai começar a produzir poemas e pensamentos nostálgicos, algo me faz vir pra cá. E sem perceber toco as mesmas músicas, de novo, e vejo a emoção nos olhos dos que ouvem, e parece que é a primeira vez. Algo fará desta noite diferente, uma nova história, um novo relato, alguém com mais um dos seus rompantes emotivos. Há um momento onde a exaltação produzida pelas músicas dá a impressão de que o mundo vai mudar ao último acorde, que tudo estará resolvido. O conhaque acaba, o copo vazio deixa triste a amizade, que de agora em diante será movida a cigarros, esses elos malditos e necessários. Já é madrugada, e parece que a felicidade musical é perturbadora, as luzes das casas se acendem impacientes, janelas e vozes que nos amaldiçoam. Eles demoram a entender que estamos numa encruzilhada, e não nos seus quintais. Eles demoram a entender que estar na encruzilhada é mais do que físico, é pessoal, musical, é sobrenatural. Alguns desertam diante da batalha. Eu permanecerei aqui, sem conhaque, e os cigarros estão acabando, com apenas mais algumas músicas no repertório, que eu preciso que aquelas pessoas das janelas ouçam. Espero que entendam, não é nada pessoal. Isso não me fará melhor, nem pior do que os mais chatos incrédulos que me perseguem. Não me importa ser melhor ou pior do que eles, desde que não se sintam felizes por isso. Aqui, temos outros valores, mas chega de conversa, é hora do show.
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