Parece difícil se manter fiel a esse lugar, ao mesmo tempo que parece impossível se manter aqui. Aqui estamos expostos e visíveis a todos, na nossa confusão. Nos encontramos sem perceber que estamos há tempos no mesmo lugar, sempre parecendo que tudo é novo. A encruzilhada está iluminada hoje, não pelas
fogueiras, mas pelas luzes de um Natal regado à hipocrisia. Época terrível, as canções reveladoras não fazem efeito em ninguém, parecem todos hipnotizados. Estão passeando, cumprindo uma obrigação mórbida de se manterem sorrindo, para que suas crianças não percebam o quanto isso está sendo pesado para eles. Alguns se juntam a nós, mas não ficaremos muito tempo, hoje há muito movimento, provavelmente queiram se achegar e nos abraçar, e dizer aquelas coisas óbvias de sempre. É muito mais simples nos apertarmos as mãos e tomarmos mais uma dose deste conhaque sem gelo, o violão não sairá da capa hoje. É calor, e a sensação de que tudo está errado só aumenta, não há mais a seriedade do inverno e todos que por aqui passam transpiram um desejo incessante de libertinagem. A encruzilhada não fará ninguém feliz desta vez, daqui até a hora em que acabar esse período infame tudo será mentira. Somente a ressaca do dia seguinte será verdadeira, dolorosa e terrível. Pobres almas, sem música e sem poesia, precisam destas cores todas para sorrirem. Quando tudo ficar cinza, a dor será muito maior. Quando passarem por aqui de novo, nós é que estaremos sorrindo, bebendo e cantando enquanto voltam para os seus travesseiros descansar suas cabeças pesadas de arrependimento. Um brinde, Feliz Natal.
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