O épico Flamengo de Andrade, versão 2009.

O futebol mudou muito desde o último título brasileiro conquistado pelo Flamengo. Não se imaginava naquele momento que o maior vencedor dos anos 80, pudesse decair através de sucessivas administrações desastrosas, contratações inúteis, falta de estrutura, salários atrasados, craques charlatões que jamais se identificaram com a mística da camisa rubro-negra. Assim foi o Flamengo desde 1992, cujas conquistas se fundamentaram em torneios como o mata-mata da Copa do Brasil e o inexpressivo Carioca, que só tem validade moral no Rio de Janeiro, no charme da Taça Guanabara. Não basta porém, ganhar uma Copa do Brasil e se inserir na libertadores sem uma equipe adequada. Uma equipe que ganha a Copa do Brasil não é exigida, nem em um terço, do que uma equipe é exigida na Libertadores. Logicamente a decepção era iminente. Era preciso começar de novo, fazer um Campeonato Brasileiro de forma a ficar entre os quatro primeiros. Foi assim em 2007, numa arrancada comandada por Joel Santana, terminou o Brasileirão em terceiro lugar. Na libertadores, em 2008, pesou novamente a gestão, que não soube negociar a permanência do quadro na janela do início do ano, perdendo já de início o técnico, que despediu-se do clube na noite em que o time foi eliminado da Libertadores em pleno Maracanã, por inacreditáveis 3x0 para o América do México. Naquele dia, estava na tribuna do estádio, o futuro treinador, Caio Jr. O Flamengo chegou a liderar o campeonato Brasileiro daquele ano por três rodadas, mas mais uma vez a janela de saída de jogadores desestruturou o clube, que terminou o campeonato em 5º lugar, sob as vaias do Maracanã. Quem chegou foi Cuca, que cuminou sua trajetória com mais uma conquista do Campeonato Carioca, a primeira da sua conturbada carreira do treinador. Começa o brasileirão e com ele mais uma crise, desta vez de relacionamento entre Cuca e jogadores que abala o ambiente. O Flamento é eliminado da Copa do Brasil de maneira insólita pelo Internacional, jogando bem mas com erros infantis.
E em várias destas ocasiões, lá estava Andrade, o treinador interino, mas desta vez a coisa seria diferente. Após uma vitória heróica sobre o Santos na Vila Belmiro, a campanha fica Andrade tomou conta da torcida. Mais duas vitórias e ele foi efetivado, tendo como presente de efetivação três derrotas seguidas. A diferença era um ambiente comandando por um verdadeiro rubro-negro, que administrou os egos, incentivou valores como Zé Roberto, apostou em Petkovic, e não teve medo de fazer alterações. Andrade assumiu o time, como auxiliar técnico, na 14ª rodada, diante da demissão de membros da diretoria, do tabu de nunca ter vencido o Santos na Vila Belmiro, e da morte do antigo companheiro Zé Carlos. Porém, cinco jogos depois, parecia que a crise ainda assombrava a Gávea. Na 21ª Rodada, tomando de 3x0 para os catarinenses do Avaí, o comentário era o rebaixamento. Emerson sai, e chegam Maldonado e Álvaro. A arrancada começa na 22ª rodada, quando Pet desequilibra o jogo contra o Santo André, e o Flamengo vence por 3x1. Já havia passado mais da metade do campeonato, contusões ridículas, como a de Kleberson, pela seleção brasileira de Dunga (colorado), demonstravam que não seria fácil para o Flamengo sequer chegar perto do G4. Na 30ª Rodada, porém, no Palestra Itália, a vitória por 2x0 sobre o líder Palmeiras colocou fogo no campeonato, tendo Pet como herói do jogo. Na 34ª Rodada, também fora de casa, o rubro-negro desmonta mais um sério adversário ao título, o Atlético-MG, eterno rival em decisões e jogos históricos. A esta altura, Maldonado e Álvaro já eram fundamentais para a estrutura tática do Flamengo. Outra contusão ridícula, desta vez de Maldonado, convocado pela seleção Chilena. Mas a essa altura, os prováveis candidatos ao título já estavam cansados e tropeçando nas próprias pernas. O São Paulo era o mais confiante, principalmente quando, diante de uma derrota para o Botafogo, viu o Flamengo tropeçar em casa contra o Goiás. Na rodada seguinte porém, o tricolor Paulista foi goleado pelos goianos, e viu o título criar asas, diante dos bons resultados de Internacional e Palmeiras, na penúltima rodada, quando, finalmente o Flamengo assumiu a liderança, com os colorados no seu encalço, e uma partida difícil pela frente, contra o eterno pedra no sapato, Grêmio.
O final todos já sabem.Com dois jogadores que ainda não tinham marcado pelo Flamengo neste ano, David e Ronaldo Angelim, após o adversário sair na frente, o Flamengo vence a partida final. Após esta argumentação, ainda tem gente que ousa dizer que o título foi arranjado, ou que o Grêmio entregou. Não importa. Agora é só ouvir, com prazer, o choro de todos até o próximo ano.

Andrade é Hexa. Flamengo é Hexa. Rumo às batalhas internacionais. E tenho dito.