segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Contos das Encruzilhadas - O nevoeiro






Com as mãos suadas e nervosas, olhando o céu, esperamos que as névoas se dissipassem. Não queríamos muito, apenas a paz de nos livrar do medo do que não conhecíamos. Eram madrugadas frias e cheias de
histórias, mas as nossas, em especial se cruzavam com mórbidas formas de vida que nos atormentavam. Eram segredos sujos que nos atacavam as lembranças durante o dia, e nos espreitavam durante a noite. Enquanto todos relaxavam  de seus dias pobres e encostavam suas cabeças vazias em seus travesseiros, lá estávamos tentando entender o que move as almas mais estranhas, os espíritos infames que derrubavam homens e mulheres nas noites sem lua, mesmo sabendo que por ali, em algum lugar, estava um Deus que não víamos, amigo, protetor e aniquilador.
Apenas queríamos ver o mistério, estar juntos e diante de algo que ninguém mais vê. Queríamos atravessar o nevoeiro e desvendar os vultos que nos amedrontavam, e o quanto eles falavam nos nossos acordes. 
As névoas se foram, e revelaram apenas motivos pelos quais os acordes não cessam. O amor, a vida e a humanidade que despertou para mais um dia sofrido, cujo objetivo comum era apenas chegar a noite, e  encostar sua cabeça vazia nos travesseiros. Sabíamos que, quando isso acontece, estaríamos ali, de novo, com os olhos cheios de esperança, para o bem, ou para o mal.  Acordados, ao menos, seríamos diferentes. E somos, até hoje.

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