
Meu primeiro contato com a literatura de Poe foi com o compilado “Histórias Extraordinárias”, e confesso, fiquei decepcionado.
Minha decepção era direcionada aos leitores de hoje, que se deliciam com continhos para dormir, filminhos que não nos fazem pensar em nada e poeminhas rimados que, às vezes, parecem brincadeiras de criança. Há dois séculos nascia um artista sofrido e um escritor maldito, condenado pelas suas próprias palavras às nossas medíocres homenagens. A partir do dia em que li Poe, comecei a ver gente morta, e a sentir arrepios ao aproximar-me daquele canto mais escuro da igreja, estando só, à mercê da loucura da arte. A partir deste dia também, vi muita gente viva, ou morta-viva, que se sentiu impelida a escrever os horrores da vida em belas frases, bem montadas e que despertam certa piedade em quem as está lendo. O mal está em despertar a caridade para as maldições encontradas nas palavras de Poe, e, quando menos esperamos, o corvo está batendo o bico nas nossas vidraças.
Um artista precisa sofrer, e Poe não deixou de seguir a regra. Seus poemas eram carregados da maldade da sociedade do século XIX, aquelas ruas parecem surgir diante dos nossos olhos enquanto nossos cérebros fracos parecem lutar para discernir um linguajar tão arrojado. Tive a sorte de ler alguns exemplares que foram mais fiéis à idéia original do poeta, mas nem tudo está como deveria ser.
Apenas uma arte digna da inspiração Divina fica nos cercando durante dois séculos, ou mais. Os mais arredios hão de perguntar: o que há de Divino nas malditas palavras de Poe?
Ouso responder, amigo. Edgar Allan Poe, assim como outros influenciados por ele, faz você pensar no que fez de errado. As palavras do poeta maldito revelam a dor e a luxúria do terror que assombra a nossa sanidade, sem que nós a percebamos, e quando nos deparamos com estes escritos, somos inundados pelo mesmo medo do poeta. Os nossos erros vêm à tona, por medo da interpelação Divina, pois o Deus, que é justo, sabe quais são nossos erros. O verdadeiro terror está nas almas, e não nos monstros e zumbis criados apenas para ilustrá-las, e nos revelar o quanto ainda temos que melhorar. Produzir beleza é regra para artistas, por outro lado fazer as pessoas sentirem a arte através de suas próprias autoflagelações morais, é praticamente profético.
Sim, para profetas, o terror é a verdade mais humana revelada. São vozes que clamam no deserto cutucando as feridas do povo e seus ressentimentos mais profundos. Eliseu, Isaías, João Batista, todos gritaram aos nossos ouvidos as verdades que fazemos a todo instante, e continuamos nossos dias como se aquelas palavras não existissem. Ai de nós que não ouvimos aqueles poetas, para cedermos às belas palavras mentirosas de outros.
A arte continua profetizando, alguns são ouvidos mais do que outros. Mas as profecias nunca cessaram.
Eu vejo pessoas mortas. E, às vezes, ainda posso ouvir o bico do corvo na minha janela.
Minha decepção era direcionada aos leitores de hoje, que se deliciam com continhos para dormir, filminhos que não nos fazem pensar em nada e poeminhas rimados que, às vezes, parecem brincadeiras de criança. Há dois séculos nascia um artista sofrido e um escritor maldito, condenado pelas suas próprias palavras às nossas medíocres homenagens. A partir do dia em que li Poe, comecei a ver gente morta, e a sentir arrepios ao aproximar-me daquele canto mais escuro da igreja, estando só, à mercê da loucura da arte. A partir deste dia também, vi muita gente viva, ou morta-viva, que se sentiu impelida a escrever os horrores da vida em belas frases, bem montadas e que despertam certa piedade em quem as está lendo. O mal está em despertar a caridade para as maldições encontradas nas palavras de Poe, e, quando menos esperamos, o corvo está batendo o bico nas nossas vidraças.
Um artista precisa sofrer, e Poe não deixou de seguir a regra. Seus poemas eram carregados da maldade da sociedade do século XIX, aquelas ruas parecem surgir diante dos nossos olhos enquanto nossos cérebros fracos parecem lutar para discernir um linguajar tão arrojado. Tive a sorte de ler alguns exemplares que foram mais fiéis à idéia original do poeta, mas nem tudo está como deveria ser.
Apenas uma arte digna da inspiração Divina fica nos cercando durante dois séculos, ou mais. Os mais arredios hão de perguntar: o que há de Divino nas malditas palavras de Poe?
Ouso responder, amigo. Edgar Allan Poe, assim como outros influenciados por ele, faz você pensar no que fez de errado. As palavras do poeta maldito revelam a dor e a luxúria do terror que assombra a nossa sanidade, sem que nós a percebamos, e quando nos deparamos com estes escritos, somos inundados pelo mesmo medo do poeta. Os nossos erros vêm à tona, por medo da interpelação Divina, pois o Deus, que é justo, sabe quais são nossos erros. O verdadeiro terror está nas almas, e não nos monstros e zumbis criados apenas para ilustrá-las, e nos revelar o quanto ainda temos que melhorar. Produzir beleza é regra para artistas, por outro lado fazer as pessoas sentirem a arte através de suas próprias autoflagelações morais, é praticamente profético.
Sim, para profetas, o terror é a verdade mais humana revelada. São vozes que clamam no deserto cutucando as feridas do povo e seus ressentimentos mais profundos. Eliseu, Isaías, João Batista, todos gritaram aos nossos ouvidos as verdades que fazemos a todo instante, e continuamos nossos dias como se aquelas palavras não existissem. Ai de nós que não ouvimos aqueles poetas, para cedermos às belas palavras mentirosas de outros.
A arte continua profetizando, alguns são ouvidos mais do que outros. Mas as profecias nunca cessaram.
Eu vejo pessoas mortas. E, às vezes, ainda posso ouvir o bico do corvo na minha janela.
(uma homenagem medíocre ao mestre da literatura de terror)
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