Editorial de Segunda - A Glória do Inimigo Morto

Allan Luis 

Na semana que passou, dois velórios causaram comoções bem diferentes. Na Venezuela, o presidente, ditador e amado por considerável parte de seu povo, entrou para a história da esquerda latino americana, após perpetuar-se no poder através de um golpe de estado, segundo ele, aos moldes de Simon Bolívar. Se estiverem agora no mesmo lugar, é hora de Bolívar concordar ou não com ele. Mas  isso não fará diferença.

No Brasil, o vocalista do Charlie Brown não entrou para a história, apenas consolidou mais uma história comum da combinação letal fama + drogas + carência e solidão artística, nada demais. 

Se há algo em comum entre essas duas criaturas, e com certeza também entre todos nós, é o fato de que têm inimigos.  E estes sim, são o alvo deste texto, despretensioso e apolítico, porém, creio, viável. 

Toda vez que um inimigo seu morre, você está no prejuízo, pode ter certeza. Tudo o que você lutou para tentar desqualificá-lo,  a morte vai jogar por terra. Os inimigos de Chavez, por exemplo,  sempre tentaram, a todo custo, propagar a sua imagem de ditador e tirano, de persona non grata da imprensa, era uma luta incessante para tentar a tal justiça democrática. 

Mas agora ele está morto, amigos. E contra um inimigo morto não há o que fazer. 

As pessoas estão chorando no seu túmulo, ele é o centro das atenções, ele agora é um mártir de uma causa que provavelmente ele tenha inventado, e você? Ah, você é apenas o vilão que passou a vida querendo acabar com o ideal dele. Pensou nisso? 

Sim, a morte e sua eterna habilidade de criar heróis imaginários, ela é quem te deixa na pior, amigo. 

Quem sabe se Che Guevara estivesse vivo, não estaria preso? E não com a cara estampada nas camisetas dos universitários? 

As imagens públicas de Chavez e Chorão saem imaculadas com suas mortes. Azar dos inimigos, aos quais só restam as lágrimas por uma derrota amarga, e a punição por continuarem vivos. 

A vida é assim. Se você tem um inimigo, trate de mantê-lo bem vivo.