sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Teologia da afetividade III

A busca do preenchimento afetivo continua sendo um tema e tanto. Já comentei anteriormente que a humanidade está passando por uma delicada fase de transição e a afetividade também acabou se transformando neste processo.

Não importa o que dizem os gurus da afetividade e auto-ajuda, ou espiritualidade, seja qual for. Prefiro unir aquela idéia de Freud, de que somos resultado das nossas experiências no passado, à minha teoria que diz que, além disso, somos tremendamente influenciados o tempo todo por fatores externos desse cosmos maravilhoso que reúne a moda, a mídia, a religião e, claro, a política.

Política? Claro!! Se observarmos um pouco mais, veremos o quanto temos de influência política no campo afetivo! É a política que decide se homossexuais devem casar e ter filhos, se menores podem beber, fumar, sair na noite e usar preservativos, a classificação indicativa de idade dos programas infames de TV, como MTV e malhação, que são totalmente influenciadores da afetividade, aborto e outros temas. Foi política a secularização de costumes que antes eram embasados em princípios religiosos e tornavam a sociedade, aparentemente mais limpa. Porém, muito mais hipócrita.
Nos tornamos politizados e nem percebemos, defendemos instituições que nem conhecemos, doutrinas sociais e religiosas que tornam nossa convivência dolorosa e cheia de crueldade e inveja. E partimos para o julgamento precipitado de todas as situações que a política nos proporciona, como condenar casais de segunda união, mães solteiras, e manter acesa a chama do nosso preconceito em relação à atitude de quem decidiu viver uma afetividade verdadeira, longe dos princípios que atrapalham o discernimento, respeito, carinho, ética e amor. A política, neste caso é uma doença que tomou-nos, todos, por hospedeiros.

Ligada diretamente a ela, está a mídia, com todas as nuances performáticas que detém o poder maior de persuasão afetiva. É ela quem propaga as liberdades que geram o consumismo consequente da moda, e as manias de contestação sem nenhum embasamento ou sinceridade, frutos das grotescas comédias apresentadas nos seus programas enlatados.
Ela define o padrão de beleza de homens e mulheres, e sustenta toda uma indústria que lucra com esse modelo forjado de vaidade afetiva. O vazio e fragilidade moral das pessoas', é claramente resultante do fato de serem vítimas das necessidades que o marketing criou em seus estilos de vida.

Dentre os influenciados neste imenso jogo mercadológico, estão duas classes distintas de pessoas. As mais espiritualizadas, e os chamados mundanos ou profanos.

Os profanos estão do lado da moda, querem encontrar alguém. Procuram por pessoas bonitas no padrão mostrado pela mídia em geral, com modo de vestir idem, atitudes descoladas, com bom padrão financeiro e que sejam um terremoto na cama. Valores fúteis que banalizam o sentimento, e mantém um estereótipo de parceiro perfeito, que será mostrado na sociedade, mas que não servirá para nada dentro do coração de alguém.

Os mais religiosos procuram santos que não existem, que estejam plenamente à margem dos chamados prazeres da carne, isolados do estilo de vida secular, o que garantiria uma certa fidelidade nesta parceria. Em tese, claro.Esquecem-se de que somos de carne e osso, e estamos aqui para desenvolver nossa capacidade de criar, de estar juntos uns com os outros, trabalhar a nossa capacidade inventiva no mundo que Deus nos deu pra viver, de modo bom e honesto. Mas o mais importante é o fato de que merecemos estar aqui! Não fosse por isso e não teríamos saído dos jardins do Éden. Apenas a leitura do Gênesis explicaria isso a essa classe de pessoas. Claro, isso jamais justifica uma infidelidade, mas justifica o amor, e as liberdades de opinião e escolha que nos foram presenteadas pelo Criador.

Portanto, tudo isso molda a atual doutrina da afetividade, que está sendo vendida há muito tempo e não percebemos. Simplesmente contemplamos os modismos como normais, gostamos das novidades, e acreditamos que o progresso e a modernidade nos levam ao tal autoconhecimento, enquanto os mais religiosos estão no caminho da sua salvação, ou então que todos os caminhos levam a Deus, e essas coisas que a chamada voz do povo costuma pronunciar, sempre, e lamentavelmente de forma constante.

Quando algum relacionamento acontece fora destes padrões, a comunidade coloca-se no direito de chocar-se ou criar considerações e conceitos nos quais nem mesmo acredita. E que nada vão gerar além de esforços e tempo desperdiçado, pois, enquanto observa-se a afetividade alheia, perde-se de construir a própria.

Religiosos ou não, todos caímos na tentação satânica e vaidosa de subjulgar a afetividade alheia, e nada disso é útil para o nosso crescimento e cultura.

Muito pelo contrário, ficamos cada vez mais presos aos moldes que terceiros criaram para defender uma certa ordem moral, ou garantir o seu lucro e seu sustento.

Para o amor, não existe nenhum padrão. Paulo, o apóstolo, gastou sua dialética sobre o amor, na Carta aos Coríntios, e falou certo, porém pouco.

Aos que acharem que o Amor resume-se em padrões, que fiquem com sua parcela resumida. Aos que acreditam que Deus não colocou nenhum balisamento nisso, boa sorte, provavelmente com estes me encontrarei no banco dos réus, e não sabemos se haverá alguém para nos defender.

Que não nos tirem, porém, o direito de ficarmos calados.

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