Católicos, assistam.

Dan Brown não é um escritor de talento, mas é muito esperto, sem dúvida. O sucesso da sua obra está fundamentado na sua boa percepção da contradição da existência da Igreja Católica, única instituição que poderia lhe fornecer subsídios para mais centenas de obras como essa, em seus dois mil anos de história.
O filme Anjos e Demônios, redime, porém, o escritor de uma abordagem infame como a de Código da Vinci, partindo para uma vertente conspiratória mais eficiente do que simplesmente duvidar dos dogmas, ser ateu e cientista, e outros clichês que compõem a personagem de Tom Hanks. E como era de se esperar para valorizar a mídia, a Igreja se contrapõe à obra, ajudando-a com publicidade gratuita, concluindo que o pessoal do marketing da fé católica não aprende mesmo.
O filme não apresenta nada que desabone a Igreja. Muito menos do que estamos acostumados a ver no cotidiano do clero, que seria motivo para maiores escândalos. Nele, a Igreja é apresentada como é, uma instituição humana com inspiração Divina, mas que precisa se manifestar num mundo onde a ciência põe em xeque seus ensinamentos, e banaliza sua fé para, simplesmente, evitar o conflito humano com sua trabalhosa missão de viver decentemente no mundo. E as estranhas desta organização em nada diferem da nossa pobre sociedade, derramando o veneno da hipocrisia, e sustentando-se numa aparente retidão. Não assistir ao filme é não refletir, assim como não ler a Bíblia, pois os ateus o fazem muito bem e com bastante embasamento. Não esqueçam, estamos falando de uma ficção.
A ficção tem o dom de despertar as fantasias mais incríveis nas pessoas. O entretenimento é assim, tem essa função, e a Igreja não convive muito bem com isso, imaginando que as histórias devessem passar pelo crivo monárquico da doutrina. Não seria tão mal com determinados temas, mas fica o direito de escolha amputado. Fiéis que não escolhem, não erram, mas também não acertam, e isso nos parece um pouco morno, não?
Se você não é morno, assista, e faça suas escolhas.