É muito difícil designar um valor para uma obra como a de Ariano Suassuna. Sua morte, sua sentença final deixa-nos uma riqueza intelectual invejável, enfeitada por uma erudição genuinamente brasileira. Ao morrer, deve ter se irritado ao extremo com os "#RIP" das redes sociais, afinal, não aceitava estrangeirismos, chegando a chamar Michael Jackson de lixo cultural. De um humor inabalável, queria "fugir do Brasil e voltar para o Ceará", e sempre esquecendo de que sua obra mais popular, o Auto da Compadecida, foi produzida para a TV por aquela que, talvez, seja uma das maiores produtoras de lixo cultural do planeta, a Rede Globo.
Somente a retórica riquíssima de um Imortal (por merecimento) da Academia Brasileira de Letras pode-se espalhar com tais polêmicas e declarações, e passar despercebido, sem culpa. Aliás, só por abrigar José Sarney, a ABL já poderia ter sido considerada antes como uma das grandes traidoras da nossa língua pátria.
Mas Ariano é sempre perdoável. Assim como suas queridas crias que conseguiram a redenção diante da Compadecida. Em caso de julgamento, que se livre Ariano, e também Michael Jackson.
Para a Globo, e José Sarney, reservem o inferno, em bom português.