Allan Luis Pereira
As séries de televisão americanas são felizes por que usufruem de uma estrutura gigante, apoio, patrocínio, e algo que vai além das óbvias fórmulas evidentes em todas elas, a livre iniciativa. David Shore foi imensamente feliz, mas duro na construção de uma série médica, e na estratégia de transformá-la em uma inovadora forma de abordar o relacionamento humano. Dr. House era diferente por que deixou de lado a convencional crítica à vaidades dos homens de pé branco, sempre uma discussão perdida, pois sabemos que ela sempre existirá, assim como em outras profissões. A fictícia equipe de diagnósticos ficava com o jogo de egos e desprezos que qualquer grupo concentra. Hugh Laurie foi um canal de ligação entre os telespectadores e uma mensagem oculta sobre o que se espera de um profissional de saúde, e também o que não se espera. Ao mesmo tempo, não havia nenhuma intenção na série de demonstrar isso, e o tema ficava secundário diante dos métodos pouco ortodoxos de House, que acabaram sendo herdados por todos da equipe. A verdade não é uma ferramenta que o ser humano utiliza, nem mesmo em seus momentos mais difíceis, e o protagonista trabalhou em função dela durante boa parte das oito temporadas. Após o fracasso dos seus relacionamentos, a verdade passou a ser fruto de estratégias mentirosas, e no último episódio, ela cruelmente se esconde atrás de uma mentira dolorosa, mas necessária. David Shore revelou a ambiguidade das palavras e da vida através de personagens apaixonantes, sem os quais House não teria o mesmo sucesso. Analisemos juntos:
Dr. Wilson (Robert Sean Leonard): o amigo fiel escudeiro, como sabemos, uma versão um pouco mais chata do assistente de Sherlock, porém com uma responsabilidade fundamental na trama, ser o único amigo próximo do protagonista.
Dra. Lisa Cuddy (Lisa Edelstein): A ex-namorada e ex-diretora do hospital tornou-se um grande personagem, principalmente na sétima temporada. Ciente disso, a atriz Lisa Edelstein tentou renegociar o contrato, sem acordo, a personagem deixou a série, desnecessariamente.
Dr. Eric Foreman (Omar Epps): Personagem claramente incomodado com os estereótipos lançados sobre os afro-americanos nas séries, assumindo a condição de ex-preso por arrombamento, e vitorioso por se tornar um grande médico, torna-se o diretor do hospital, por ter sido da equipe de House, tem dificuldade em efetivar sua autoridade, assim como em qualquer empresa onde isso acontece. Ao final, tem insights de afeto para com o protagonista, a quem já considerou um rival.
Dr. Robert Chase (Jesse Spencer): com status de galã da série, foi o personagem mais interessante nos seus conflitos e idas e vindas da equipe. Claramente a favor das estratégias de House, acaba por herdar sua equipe e sua visão de mundo.
Dra. Cameron (Jennifer Morrison) A primeira bela da série foi muito bem na interpretação de uma jovem média de classe média, trazendo conflitos sociais, tendendo ao feminismo e ao politicamente correto, mas releva-se ao ter um caso tórrido com Chase. A partir disso, torna-se uma opinião ferrenha, beirando a chatice e boicotando as estratégias de House. Se o objetivo da personagem era incomodar, conseguiu.
Dr. Chris Taub (Peter Jacobson): O cirurgião plástico judeu, bígamo é uma antítese aos que colocam sua religiosidade como escudo e formação de caráter. Claramente corrupto, é um personagem que apesar do bom coração, não exita em quebrar protocolos, motivo pelo qual House o contrata.
Dra. Remy Hadley "13" (Olivia Wilde): A clínica-geral bissexual mostrou-se incomodada com os rótulos, tornando a personagem misteriosa, com uma doença rara, ela larga os discursos e anseios feministas libertários e torna-se parceira e confidente de House. Talvez, depois do próprio House, seja o personagem com maior carga dramática pessoal na série.
Dr. Kutner (Kal Penn): Mesmo se não tivesse se suicidado na trama, talvez não tivesse permanecido na série. Pouco peso dramático e personalidade, ficou muito atrás da Dra. Amber (Anne Dudek), que nem chegou a fazer parte da equipe, mas sua morte foi comovente e um dos ganchos de conflito mais duros na série.
Dra. Masters (Amber Tablyn): Na ausência de Thirteen, foi uma grata surpresa. A estudante de medicina cheia de princípios e regras de colégio enfrenta a dura realidade corrupta do cotidiano do mundo real. Encarnou um tipo físico desinteressante para os padrões de beleza midiáticos, e manteve uma linha dramática excelente. Foi uma personagem bem dosada, fez o que foi proposto e saiu na hora certa.
Dra. Chy Park (Charlyne Ly): Outra bela surpresa, deu um tom cômico interessante às cenas, algo que ainda não havia acontecido à série. Uma nerd filipina que entra na equipe, mas surpreende ao revelar que pode quebrar regras e seguir no time até o fim.
Dra. Adams (Odete Annable): A personagem trabalhava como médica no presídio onde House tirou umas férias. Logicamente, foi a substituta lógica das belas da série Cameron e Thirteen. Não teve a mesma felicidade dramática das suas antecessoras.
Conclusão, o final de House nos deixa órfãos de bons personagens nas séries dramáticas de TV. Aguardemos como o segmento vai reagir, pois no final, já sabemos, todo mundo mente.